segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Loucura

Esta mensagem será um pouco diferente das anteriores, pois também o meu estado de espírito é diferente. Apesar de grande parte do que foi dito carregar uma forte componente emocional, tudo foi previamente pensado, sofrido e só depois relatado aqui, por motivos irrelevantes. Desta vez no entanto a metamorfose emocional e psicológica está a ocorrer enquanto escrevo estas linhas, e por essa razão será a prosa o envelope deste postal.

Devo referir também que considero tudo o que direi aqui como sendo prematuro, necessitado e revelador de alguma falta de carácter. Resta-me apenas dar a informação de que este texto é maioritariamente para os olhos do gato marinho, e como sei que esses olhos não verão estas linhas por iniciativa própria, confio no ouriço para quando (ou porque tomou essa iniciativa ou porque perdi a paciência) se aperceber desta mensagem comunicar ao gato marinho que nade até estas margens.

Terminada a longa introdução dou início ao texto propriamente dito.


Ao que parece estou louco. Repito o mesmo processo e acredito num resultado diferente, pois minto a mim próprio dizendo que há condicionantes que alteram o processo. Nem sei como posso dizer isso se nem conheço as condicionantes, e os últimos dias têm vindo a provar isso mesmo. O Mar de azul e dourado foi molhar as praias da Ilha do Norte e tive esperança de que um dia me voltaria a banhar nas suas águas... Mas isso está no passado e serve aqui apenas motivos de comprovação da demência que se alastra por mim.

Vamos ao que interessa, a Pulga na balança, a Unha encravada, a minha Doença favorita... se as minhas palavras aqui ofendem tal não é a minha intenção, relato apenas as imagens que o meu coração envia ao meu cérebro e indirectamente aos meus dedos. Mas estou a divagar, falava da comparação. Julgava eu ignorante sonhador que dentro de muitas luas também o Gato que já foi Corvo navegaria para a Ilha do Norte e aí todo o nosso contacto e afeição, que na minha mente doente era sabido, se perderia. Um preço que pagaria de bom grado, e contestaria até com investidas financeiramente suicidas para que esse carinho não se perdesse. Mas os Deuses assim não o quiseram. Pois na minha loucura calculada nem o que eu esperava ser o meu fim foi alinhado com o meu horizonte.

Morri na praia, ou assim me parece, não que esperasse muitas coisas de um ser dotado de tantas particularidades desconhecidas. Contava talvez na pior das hipóteses com um crescendo que culminasse numa tentativa frustrada e uma conversa sobre zonas, mas não tive essa bênção. Num dia subia uma rua rumo à felicidade quando ao virar da esquina me deparei com o vazio. Um grande buraco no chão, em direcção ao centro da Terra, vi umas poucas ilhas de pedra que tentei alcançar feito jogo de plataformas, mas rapidamente me apercebi na impossibilidade de chegar a outro lado, se é que havia outro lado. Só posso agora esperar por um milagre, mudar de direcção e abandonar a cidade felina para sempre, ou voltar para trás e começar tudo de novo, o que não me parece que me fosse permitido.

O silêncio é esmagador nesta pequena ilha de pedra onde me sento com as pernas cruzadas à chinês porque assim pareço mais fixe e combina com o meu cabelo de tentativa falhada de referência oriental. Hoje não sou um animal, sou muito menos, sou só um homem sem máscaras que não sabe onde errou e por essa razão vai continuar a errar.

Olho para baixo, para o abismo, e quero tanto abandonar, mas como sou louco acredito sempre numa solução e que uma ponte entre as ilhas me vai surgir. E estou certo de que vai, mas será uma alucinação, o que vai resultar na minha queda, prevista já na anterior mensagem deste espaço informático, se bem que por razões diferentes.

Os parágrafos tornam-se mais curtos não por ter menos assunto mas porque mais tempo passa até saber o que dizer, deixando assim tantas coisas para trás. A verdade é que quero dizer tudo mas não quero que ninguém saiba nada, e por essa razão pergunto-me se ao terminar este texto o guardo ou deito fora, não faço ideia do seu tamanho mas calculo que nenhuma pessoa sã terá paciência de o ler até ao fim. Menos mal creio, assim posso escrever à vontade, dizer tudo sem ninguém ler nada, e sentir-me-hei para sempre melhor tendo encontrado esta solução.

Posso estar perdido mas não estou cego, sei que a minha oportunidade se eclipsou, se é que alguma vez tive uma oportunidade, mas o que eu queria agora era muito menos que isso, era apenas saber porquê. Porquê o afastamento, porque é que num dia tudo era possível e no outro há uma exclusão tão grande e tão dolorosa que faz ranger os dentes. Primeiro silêncio digital, seguido de contacto visual nulo, seguido de contacto fonético mínimo, seguido de contacto quase obrigatório, seguido de novo silêncio mortal. Sei que em nada mudei a minha atitude e que nada fiz para alterar este rumo da história, e o que o gato falante diz é que não é nada comigo, que o problema é exterior e que todos os pequenos corvos sofrem do mesmo afastamento neste momento e que daí não devo pensar mais nisso... Não devo pensar mais nisso? Não consigo pensar em mais nada! Tenho uma cobra a devorar-me o cérebro e só vai parar quando engolir a merda responsável pela memória. E sei que agora vai haver barulho por todo o lado e animais a fazer os seus sons característicos mas que significam todos a mesma coisa: "Mas ninguém te prometeu nada! Como podes sentir falta de algo que nunca foi teu?!". Não sei. Chama-lhe loucura, chama-lhe desespero, chama-lhe amor. Chama-lhe tudo o que podia ter sido e nunca foi, e provavelmente nunca será. Só sei que a minha consciência está tranquila, e que na minha mente já vi tudo o que pode e não pode acontecer, pois nos últimos dias tem sido esse o meu único propósito. Neste momento estou sereno, só não aguento mais surpresas más... Venha de lá o carrasco, não me cortes é as mãos em vez da cabeça, preciso delas para escrever mais tentativas de chamar à atenção dizendo muito mais do que queria.

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